A China chegou a crescer 13% em 2007 e 10,4% em 2010, e manteve o ritmo em patamares elevados até o ano passado. Este ano, o crescimento esperado do PIB chinês em torno de 7% está abaixo do esperado. O Fundo Monetário Internacional (FMI) previu em seu último relatório que a China deve crescer 6,8% em 2015 – a menor taxa anual para o país em 25 anos.
"A bolha da economia chinesa começou a estourar depois de vários anos de crescimento robusto. Agora, está virando uma bola de neve e levando a bolsa junto", analisa o professor de finanças Alexandre Cabral, para quem os sinais de que a China desacelerava surgiram desde o ano passado.
Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management, afirma que a avaliação feita no mercado é de que a China nunca mais voltará a crescer a taxas ao redor de 10% ao ano por conta das fortes alterações macroeconômicas realizadas no país.
Com o forte avanço do PIB chinês nos últimos anos, a China tentou mudar o perfil de sua economia de um modelo predominantemente exportador para uma economia voltada ao consumo interno.
O Banco Central da China se comprometeu a apoiar o crescimento ‘sustentável’ do país e passou a limitar investimentos do exterior. As exportações, que apoiavam a economia chinesa, passaram a cair e o governo precisou desvalorizar o iuan.
Para o FMI, a desaceleração da China e a forte queda de seu mercado acionário não é o anúncio de uma crise, mas um ajuste "necessário".
Com o crescimento menor que o esperado na China, a demanda por commodities (petróleo, minério de ferro, soja, açúcar) no mundo cai e isso afeta todos os países, especialmente o Brasil, que tem o país asiático como principal destino de suas mercadorias.
"Os grandes afetados neste panorama são os países emergentes que se alinharam à China, principalmente depois da crise de 2008", diz Vieira. "A expectativa é sobre como a China irá se inserir nesse novo cenário de crescimento mais modesto e como os países que se tornaram dependentes da China vão se comportar a partir disso", diz Vieira.
O principal índice da Bovespa caiu para seus menores níveis desde abril de 2009 por preocupações com o que ocorre na China. Já o dólar bateu R$ 3,58, atingindo nível mais alto em mais de 12 anos.
Além do impacto no preço de commodities e volume exportado para a China, um menor crescimento chinês pode ocasionar uma fuga maior de recursos feitos por investidores internacionais em países emergentes como o Brasil.
"Os gringos podem começar a sair do país, não devido aos problemas internos da economia, mas porque os estrangeiros podem precisar fazer caixa e vender suas ações", diz Cabral.
O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, disse que o governo tem agido para reduzir a volatilidade no câmbio e que o Brasil 'está preparado' para enfrentar turbulências como a provocada nesta segunda nos mercados após novo tombo da bolsa chinesa. "Temos um elevado estoque de reservas internacionais que dá ao Brasil segurança e capacidade para enfrentar essa flutuação cambial sem gerar um problema financeiro no país", destacou.
As ações chinesas vêm perdendo valor desde junho e está perto de zerar seus ganhos neste ano. Os dados da economia chinesa não têm sido muito positivos ultimamente, e isso vem gerando temor entre os investidores sobre a "saúde" do país. O PIB do primeiro trimestre, por exemplo, apesar de ter crescido 7%, mostrou o pior ritmo em seis anos.
Na China, diferentemente dos mercados europeus ou dos Estados Unidos, 80% dos investidores são cidadãos, pessoas físicas. Muitos deles são inexperientes e seguem rumores ao tomar decisões. Assim, o mercado é mais vulnerável a reviravoltas repentinas, como num rebanho.
Outro lado da questão é que investidores de longo prazo estão investindo menos em ações porque muitos acumularam bons ganhos no último ano. O índice de Xangai, por exemplo, havia acumulado alta de 150% até junho.
O governo de Pequim tinha visto nos mercados acionários uma peça importante na estratégia de transformar o país numa sociedade de consumo. A popularização das bolsas serviria para recapitalizar as endividadas empresas do país e, ao mesmo tempo, fazer com que o pequeno investidor se sentisse rico. No entanto, o efeito tem sido oposto.
A agência que supervisiona as maiores estatais do país disse tê-las aconselhado a não vender ações e a comprar mais "para garantir a estabilidade do mercado". A China passou também a permitir que fundos de pensão administrados por governos locais invistam no mercado acionário. Mas as medidas surtiram pouco efeito – e o risco de intervenção do governo poderá só piorar as coisas, já que investidores podem se assustar ainda mais.
Outras medidas foram tomadas incluem emissões de bônus financeiros ou refinanciamento de empréstimos e o aumento das compras de ações de pequenas e médias empresas pela Comissão Reguladora da Bolsa de Valores da China para aumentar a liquidez do mercado.
O governo chinês decidiu também cortar suas taxas de juros e, ao mesmo tempo, afrouxou as taxas do depósito compulsório pela segunda vez em dois meses.
Ainda que a medida possa representar um estímulo às exportações chinesas, aumentaram os temores de uma maior desaceleração do crescimento chinês, o que levaria a uma contração da demanda por matérias-primas (petróleo, minério de ferro, soja, açúcar etc).
"Boa parte do que eles produzem também depende de importação. Se a China mantiver esse pretenso ritmo econômico e se isso gerar inflação, o tiro pode sair pela culatra", avalia Jason Vieira,
Outros analistas acreditam que a desvalorização poderá desencadear guerras cambiais, com a desvalorização da moeda de outros países emergentes, na tentativa de se tornarem mais competitivos.
O valor das commodities já vem atingindo mínimas históricas por conta da menor demanda mundial. Com a queda brusca das ações chinesas, os preços das matérias-primas recuaram fortemente. O minério de ferro, exportado pela Vale, chegou a cair em torno de 4% na segunda-feia (24) e o petróleo chegou a atingir uma nova mínima em seis anos.
Os contratos futuros do açúcar bruto recuaram para uma mínima de sete anos no mesmo dia, enquanto o café arábica caiu para o menor nível em um ano e meio. Operadores disseram que a fraqueza do real também era um fator chave de pressão para o açúcar e o café, que têm o Brasil como principal produtor, uma vez que a desvalorização da moeda local torna as vendas mais atrativas para os produtores.
Fonte G1
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